segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Belchior e o atestado de óbito

Legenda: Negros, pardos e índios


Como a vida imita a arte ou a arte imita a vida, fechando mais um ciclo de muito amor, alegrias, luta e humildade, minha avó nos deixou para se encontrar com sua filha e seu marido no reino divino. Deixou saudade, muita saudade, um nó na garganta, um vazio no peito. Afinal, o que eu e meu irmão, depois de perdermos a nossa mãe há 2 anos e meio, conseguiríamos suportar mais com a partida da nossa vó querida, que cuidamos com todo zelo, dedicação e amor que pudemos? Ficaram as lembranças boas, as risadas, os momentos felizes, o amor incondicional dela, que não ficava um dia sem dizer “Nandinha, meu amor! Te amo, filhoca”. Essas palavras, gravadas na minha mente e cravadas no meu coração, me dão o alento necessário para continuar a luta.

Bem, se não temos mais a sua presença, com toda sua humildade e luz, ao não reclamar de uma dor, de uma comida, de um nada, ao nos presentear com seu carinho, com sua cantoria linda junto com Belchior (os dois passaram vários momentos cantando juntos marchinhas de carnaval). Ele, com muito amor e carinho começava a canção. Ela, deitada com as perninhas cruzadas, completava as frases e, juntos, eles nos alegravam com mais uma tarde.

Claro, que depois de mais de um mês sem escrever aqui (desculpem, mas eu não tive muito ânimo, nem inspiração), precisava afirmar (dizer é pouco) que Belchior continua aprontando todas e que, apesar da tristeza dos momentos, só ele poderia nos fazer rir de algumas situações que aconteceram!!

Minha avó morreu nos braços de Belchior, depois de passar muito mal em casa. Ele desceu com ela pelas escadas, louco, fazendo de tudo para salvá-la. Foi o melhor marido, amigo, companheiro que uma mulher pode ter. Ajudou a mim e a meu irmão de uma forma linda, pura e corajosa. Conseguiu interná-la e conseguiram fazer com que ela voltasse à vida, ainda que muito mal, após a parada cardíaca. Foram 21 horas de agonia, desespero, mas Belchior foi incansável no apoio, no carinho e na agilidade para a burocracia do momento. Foi muito forte ao me dar a notícia, mas não seria o ‘Belchior’ se não me aprontasse uma nesse episódio!
A novela começou com o atestado de óbito que, em meio a 5 horas de problemas e resoluções sobre qual hospital daria, nosso amigo A.X. nos fez esse imenso favor de prescrevê-lo. Belchior foi ao seu encontro e, segundo relatos, numa seriedade incrível, os dois começaram a preencher os dados.

Eu estava em alfa, em outro planeta, mas Belchior me ligava para perguntar as informações. “Casadona, nome completo da sua avó. Idade, profissão”. A.X. dizia: “Belchior não podemos errar no preenchimento do atestado”. Até aí, tudo bem. Eles teriam que me ligar e perguntar mesmo. Dei todas as infos cabíveis e eles mandaram ver.

No dia seguinte, após o enterro, Belchior me entregou o atestado. Ok. Ao chegar em casa e começar a separar a documentação para minha saga de avisar ao INSS, bancos, estado e etc, parei para lê-lo com atenção. Nome, endereço, profissão, doenças, cidade que nasceu, tudo certo. Mas.... COR: PARDA!!! Como assim, cara pálida? Minha avó era branquinha da silva, alva. Claro que isso não é importante, mas fiquei meio incrédula, pois quando não se sabe a cor, geralmente coloca-se branca se isso for nítido. Perguntei humildemente; amor, por que vc colocou que minha avó era parda? “Ué, o A.X. perguntou se sua avó era da sua cor. Eu disse que sim e ele disse que vc era parda. Então ela também era”!!

Primeiro: não sou parda, sou branca. Sou morena de praia, mas minha certidão comprova!! Outra coisa: não perceber visualmente que minha avó era branquinha é sacanagem!! Rsrsrs Aí começamos a discussão porque o A.X. é quase transparente, então quem difere dele, segundo Belchior é pardo!! Bem, seu eu sou parda, então fulano é multado, o outro é mameluco e a discussão rendeu!! Como se diz a cor dos outros??

Mas, partindo-se do princípio de quem estava no comando para essas coisas era Belchior, tínhamos que rir de alguma M que ele iria fazer!!! Bem, parda ou branca, o fato é que vovó vai deixar muita saudade, bons momentos e deliciosas recordações! Belchior foi maravilhoso e todos os nossos amigos queridos, que não pouparam esforços para nos ajudar. D., L., M., M., C., A.X. e todos os outros, o nosso agradecimento!! Minha rainha foi descansar no reino divino! E nós continuaremos a nossa caminhada aqui. Missão cumprida...

Um comentário:

  1. Só ele mesmo!!!! rssssssssssss
    ainda bem que vc conhece seu marido e sabe que a culpa é dele!
    rssss
    abração a minha futura acessora de imprensa

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