quarta-feira, 28 de abril de 2010

Belchior e o dialeto da terrinha


Depois dessa história das antigas, existe outra coisa que eu gostaria muito de enfocar aqui no blog: o vocabulário, linguajar e os causos de Belchior, ou melhor, da terrinha como um todo. No começo, achei que só Belchior tinha esse dialeto próprio que as pessoas morrem de rir, principalmente porque, misturado a isso, têm todas as alucinações, devaneios e mentirinhas agregadas. Nenhuma história é contada da mesma forma por ele, tampouco os detalhes são os mesmos. Some a eles uma dose de birita, bom humor e a boa e velha aumentada no conto!

Quem sabe até o fim do ano eu não concluo a minha empreitada que é escrever um livro sobre o vocabulário da terrinha! Enquanto isso não rola, resolvi, com a ajuda de alguns conterrâneos de Belchior, começar a destrinchar um pouco do dialeto terrinhalês belchioriano.

Pela proximidade da terrinha com o estado de Minas Gerais, os costumes mineiros estão mais enraizados do que qualquer coisa. Todos pensam que Belchior é mineiro, uai! E ele enche o peito com todo orgulho para dizer que é duas vezes fluminense (de time e de estado). Bem, mas não há um só dia que ele não diga umas cinco vezes “Nossenhora”, juntando todas as palavras como um bom mineiro. Segue um pequeno diálogo protagonizado por nós dois muitas vezes.

Pelámordedeus, Casadona, me deixa em paz. Pelámordedeus! Larga eu ficar sozinho aqui na sala vendo TV. Larga eu ir ao bar, ué, quéqui tem? Gentiiii do céu, larga eu beber! Que perguntação é essa? Você é muito perguntadeira! Gentiiii do Céu. Eu vou lamber uma gelada com meus amigos. Quéqui tem? Quantas horas? Vou ligar para o mulato. ‘Fala motoboy. Vamos lamber uma? Vou beber como um gueopardo. Casadona não me larga em paz’”.

Tradução
Larga
= deixa
Perguntação = quando se faz muita pergunta
Perguntadeira = quem pergunta muito.
Lamber = Beber
Fala Motoboy = ??? Oi cara, beleza?
Beber como um gueopardo = beber muito?? Não sei nem se existe gueopardo, mas enfim...

Na maioria das vezes, quando chego em casa do trabalho, a primeira frase dele é “Cê ta cum fome? Eu tô com a fome do leão banguela”. Não sei dizer para vocês o que é a fome do leão banguela literalmente, se o leão banguela, já que ele é banguela, tem tanta fome assim, mas o significado é: estou com muita fome!

Sempre que vamos para terrinha então, aí que me divirto muito. O papo rola assim:
“Hoje tem piscinália. Vamos? Que gambiarra cê tava pegando ontem na boate, hein?!! Hein? Mas, hein? Ahahahahaha. Que retardado cê é, hein, cara. Pô, to na maior grota. Lambi todas ontem”.

Sim, caríssimos. Não conseguiram entender quase nada? Nem eu das primeiras vezes que ouvi essas coisas! Pasmem vocês:
Tradução
Piscinália = FESTA EM VOLTA DA PISCINA DO CLUBE!
Gambiarra = mulher feia
Boate = é o clube e não a boate!!
Grota = ressaca, no brilho, como você quiser!

“Casadona, não acredito que cê não sabe o que é piscinália. É lógico, cara, uma festa no clube em volta da piscina! Cê fica rindo. Nada a ver. Cê que não entende nada”! Gente, passei mal de rir. E assim vou tentando entender cada dia mais algum dialeto novo que aprendo.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Belchior, 'Rui e Vani'


Essa história deveria estar postada aqui há muito tempo! Mas como a gama de acontecimentos é grande, acabei literalmente esquecendo! Eis que quando estávamos colocando o papo em dia, lembrei e resolvi revivê-la agora. Nunca é tarde para isso e, muito antes do segundo filme dos Normais virem à tona, Belchior já tinha protoganizado um belo roteiro. Típico da série.

Tínhamos pouco mais de um mês de namoro e, em pleno domingão à noite, depois de vermos um jogo que possivelmente era do Fluminense (Belchior é tricolor doente), fomos ao centro da cidade comprar alguma coisa (que já não lembro). No caminho de volta, Belchior resolveu passar por umas ruas por dentro e, claro, começamos a ver várias profissionais do sexo aportando em suas esquinas.

O nível não era dos melhores, as pururucas eram trashes e seus figurinos hilários. Como uma boa jornalista, sempre tive muita curiosidade de fazer uma entrevista com esse povo, de saber dos causos e histórias. Mas não naquele dia, claro. O problema é que Belchior via todas as oportunidades para se divertir e começou a parar em cada esquina e perguntar quanto era o programa! Quase explodi de tão vermelha, transformando meu rosto literalmente numa pimenta, morrendo de vergonha e louca para ele parar com aquilo. Belchior, tá louco?! Que palhaçada é essa? “Ah, vamos zuar as putas da rua. Você vai se divertir”!

“Oi gatinha, quanto é o programa? Você faz programa a três?” E começou ele a se deliciar e desenrolar um possível ménage à trois! Eu queria sumir. Conhecia Belchior há pouco tempo, sabia que ele era meio pirado, mas não imaginava o quanto! “Eu cobro R$60 para vocês dois”. “Nossa, mas tá muito caro”. “Ué, moço, dependendo a gente faz um desconto”.

Na outra esquina, travecos. “Olá, querida ou querido”! rsrsrs E ria descontroladamente olhando para mim. “Isso tudo é de verdade”?, perguntava Belchior ao traveco saradão, com uma das maiores bundas que eu já vi. “Quanto você cobra pelo programa a três”? “R$ 60, mas não gosto de fazer a três”. “Ih, que marra é essa? Você é ativo ou passivo”? “Sou o que você quiser”. “Mas como você consegue esconder o bilau”? Nessa hora eu já estava rolando de rir no carro. O traveco era super marrento e Belchior falava as coisas na lata, perguntava tudo. “Você é muito marrento, tchau”.

Na outra esquina encontramos uma senhora, lá pelos seus 50 anos. A mulher não era acabada, mas já bastante rodada. Visivelmente cansada de guerra, com o sorriso amarelo, sem muito saco. “Olá, querida. Você faz programa a três”? “Sim, faço”. “Quanto você cobra”? “R$ 30 reais a hora”. “E se eu quiser ficar só olhando, você faz o programa só com ela”? Queria me esconder no chão do carro, mas tive que manter a calma e ficar com o olhar interessado. Fazia parte do show de Belchior. “Faço sim, mas se vocês quiserem podemos fazer os três”. Ai, que nojo! Rsrs Mas meu marido não se conformava. Queria saber mais e mais daquela senhora velha de guerra e de suruba. “Você já fez programa hoje”? E com o olhar triste, quase sem reação, balançou a cabeça. Já estava no batente desde cedo. Estava louca para nos convencer e fazer o seu último programa do dia. “A gente vai pensar e passa aí de novo”.

É uma brincadeira meio sórdida, mas bem divertida. Encarnamos o casal ‘Rui e Vani’ da série ‘Os Normais’ e finalizamos com três pururucas que se encontravam numa esquina bem visível. “Olá, gatinhas (e eu pensava eca!!, que brega abordar as putas assim). Vocês fazem programa a três”? As estrelas da ‘Gaiola das Popozudas’ se entreolharam e riram. Nenhuma resposta. “E aí, não vão me responder não”? “Depende”, respondeu a loirinha gordinha com cara de danada.

Nessa hora Belchior ficou meio bolado. “Depende de que, querida”? “Pô, se for só com ela a gente faz. Ela é o maior filezinho, muito gatinha. Gostamos dela”!! O quê??? Passei mal de rir e de sem graça, claro. “Ué, e vocês não fariam o programa comigo?”, perguntou Belchior indignado! “Ah, a gente prefere ela. Só ela!! Você é muito feio”!!

Ahahahahaha, Belchior ficou muito sem graça, tadinho. As pururucas morrendo de rir e ele todo sem graça. “Que bom que EU estou com ela então. Tchau para vocês”. E saímos da nossa brincadeira. Eu passando mal de tanto rir, ainda mais depois dessa! As putas não queriam Belchior. Queriam a mim, vê se pode! Belchior poderia ter dormido aquela noite sem essa! Ficou arrasado! Ser ignorado pelas putas era demais!

terça-feira, 20 de abril de 2010

Belchior, a malhação e a alergia


Há mais ou menos uns dois meses que Belchior resolveu mudar de vida! Sim, caros companheiros que de vez em quando nos acompanham por aqui! Ele queria mudar de estilo de vida. Resolveu começar pela Margaridinha, nossa nova integrante da família, mas que anda meio parada, coitada. Depois do caos das chuvas, Belchior não mais se aventurou pela cidade com ela. E, confesso, ainda não tive o prazer de pedalá-la por ai ou andar na carona, como foi a idéia do meu marido.

Que Belchior precisa mudar um pouco sua rotina é fato. Um cara com 25 anos e aparência de 30 e poucos, que bebe como ele bebe, fuma e vive em bar precisa se cuidar mais. O problema é que ele nunca tinha pensado nisso antes e eu fiquei assustada. Porra, quando os homens resolvem malhar e fazer dieta é, no mínimo, muito estranho. Nós, mulheres, com um quê de paranóia, sempre pensamos (desculpe, gente, mas é inevitável) que essa ‘mudança’ é fruto de alguma pururuca atlética de academia que anda ciscando no nosso terreno. Será que isso tudo é para mim? A gente fica sempre desconfiada de que quando a esmola é demais o santo desconfia.

Belchior, logo ele, que ama beber, cair e levantar, que adora comidas típicas do interior, como torresmo, canjiquinha, mocotó, moela, essas coisinhas lights? Ele que sempre comia nos botecos ‘pé sujos’ de perto do trabalho, cujo cardápio era feijoada, carré, cozido? Muito estranha essa mudança.

Mas, claro que acho que ele realmente precisa mudar seus hábitos e, por enquanto, como uma boa esposa, estou dando toda força, porém analisando diariamente e meticulosamente isso tudo. Rsrsrs

Ok, ok, as pessoas têm que ser mais saudáveis, comer melhor, mas Belchior entrou numa de me controlar também. “Nossa, você vai comer esse biscoito? Outro pedaço de torta”? Peraí, cara pálida, você entrou na dieta radical e não eu!! Chegou ao ponto de me criticar porque tomaria um pouquinho a mais de sopa! Veja essa.

Nas últimas compras tudo era light. “Você precisa comer menos açúcar, amor. Agora aqui em casa é só açúcar light”. Hãããã?? Eu que adoro meu café adoçado com a mais pura glicose? “E o suco só será temperado com adoçante”. Mas eu odeio adoçante!!!! “Vai ter que se acostumar”. E como um ditador militar, querendo imitar o famoso ‘General’, padrasto do Sérgio Malandro, Belchior agora dá as cartas quanto à nossa alimentação! Afff!

Passadas as mudanças de hábitos alimentares, ele resolveu entrar na academia. Visitou uma, pegou os preços. Soube que não era das melhores. Visitou outra, gostou, pegou o papel. Fez a inscrição, pagou a matrícula, fez o teste para aferir gorduras e taxas no corpo. Chegou com o atestado médico de exercícios físicos e agora sua vida à noite é malhar! Maravilha, acho ótimo, aliás, quem não quer um marido sarado? Chegou a até mesmo diminuir os chopps durante a semana. Incrível! Claro que como uma boa esposa perfeita, quando estou mais atacada, naquela semana da TPM, jogo as piadinhas. Isso tudo é para sua amante? Rsrsrs

Nos primeiros dias de malhação pura na veia, Belchior chegou acabado em casa. Ficou todo dolorido (como era de se esperar, né). Mas foi perseverante. Como ele chega mais cedo do trabalho do que eu, geralmente quando eu aporto em casa ele está na academia. Só que, claro, ele não se conformou com o fato de eu não malhar também. Mas eu não quero!! Não quero chegar em casa às 9 da noite e ainda ter que sair de casa para ir para academia! Como a minha idéia era apenas fazer um exercício aeróbico, como transport por exemplo, resolvemos comprar um! Pelo preço que pagaria só para fazer isso, poderia fazer isso diretamente do aconchego do meu lar, todos os dias à noite! Amei!!

Entramos na net, pesquisamos o melhor custo/benefício e nosso transport chegou!! “Só quero ver se vc vai fazer, Casadona”. Pode cobrar, amor. Vou fazer sim! Rsrs
Ainda não comecei porque chegou com um defeitinho e estamos esperando a troca. Rsrs

Bem, no último fim de semana, Belchior (pasmem) resolveu malhar em pleno sábado à tarde. Claro, amor, vai lá. Vou ficar na casa da vovó por mais um tempo e nos encontramos depois. E Belchior saiu todo pimpão rumo à academia. Gente, é muita mudança para uma pessoa só!

Uma hora depois, recebo o telefonema desesperado de Belchior. “Amor, estou passando muito mal. Saí da academia correndo. Estou todo comichando, uma coceira louca, meus olhos estão inchados. Vou para o hospital”, gritava ele!! Agüenta aí, amor, estou saindo daqui e vamos juntos. “Amor, me ajuda, tô mal”. Tome um banho e se acalme que já chego. Saí como louca dirigindo e muito intrigada. Belchior é alérgico a frutos do mar, especificamente, a crustáceos. Mas não havia comido nada de anormal nos últimos dias. Já era a segunda vez que ele ficava assim. O que será que estava lhe causando tanta alergia????

Quando cheguei em casa, Belchior estava esparramado no sofá, nú, todo empolado de tanto coçar, com os olhos muito inchados (parecia que tinha levado um soco em cada olho). Já tinha tomado dois antialérgicos. “Casadona, o instrutor da academia me disse que deve ser alergia a suor”!!! O que???? Como assim, alguém tem alergia ao seu próprio suor?

“É, amor, não tem jeito não. No bar eu não tenho alergia nenhuma. Meu negócio não é malhar, é beber”. Como disse o meu irmão: “Belchior é muito Homer Simpson”!! A malhação se transformou em alergia! Só mesmo a birita para curá-lo. Saímos de casa e paramos num barzinho. Na primeira cervejinha Belchior já estava novo em folha!

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Belchior, o repórter da rádio corredor e fotógrafo do temporal





CRÉDITOS DAS IMAGENS: BELCHIOR DA SILVA SAURO

Na semana passada resolvi continuar a escrever sobre Belchior e a terrinha por dois motivos: primeiro para que não ficasse tão velho o assunto e segundo porque estávamos vivendo uma semana caótica em meio a tantas desgraças, principalmente na nossa cidade, e já bastavam todas as notícias na TV, rádio, internet e jornais sobre isso.

As chuvas castigaram o Rio de Janeiro e acho que ninguém saiu impune ao fato. Claro que a maioria das pessoas, assim como eu e Belchior, sofreu alguns danos, mas nada se comparou ao que ocorreu com os moradores de encostas e favelas da região. Enfim, vou contar aqui um pouco da nossa história, deixando bem claro que não é nada perto do que as outras pessoas sofreram. Fica aqui a nossa solidariedade e indignação diante da falta de ética e compromisso das autoridades.

Bem, era segunda-feira, dia 5 de abril, por volta das 18h. Um temporal daqueles que pareciam cenas de alguns filmes de Hollywood. Belchior havia trabalhado de casa e eu estava no Rio. Demorei bem mais tempo do que de costume para chegar em casa, com ônibus absurdamente lotados. Consegui pegar uma barca e depois outro ônibus, em que fui a última a entrar. Fiquei naquele último degrau da escada, sendo amparada pelo braço do trocador. Depois de quase 2 horas, aportei em casa com uma grande surpresa.

Belchior estava exausto, suado, mal humorado. Simplesmente nosso apartamento estava alagado. Quando ele chegou em casa, após uma ida ao supermercado, os vizinhos estavam todos na porta, com rodo na mão e escorrendo a água que jorrava de nosso apartamento. Deus sabe o que faz e ainda bem que ele chegou primeiro. Era enfarte na certa se eu entro em casa depois de todo perrengue e ainda vejo o alagamento.

Moramos no primeiro andar depois do play e temos uma área enorme que é do prédio, mas a gente ‘administra’. Nessa área, passa a calha do prédio, que não suportou a quantidade de chuva e transbordou. Belchior limpou tudo, tadinho. Pensando bem, nem tão tadinho assim, pois eu sempre limpo e arrumo tudo! Aff!!

OK, ok, ok. Os humores de ambos não estavam dos melhores. Exatamente à 1h da matina fomos acordados por um barulho e uma iluminação que vinha do play. Estávamos sem luz e um barulho grande de desmoronamento fez com que os nossos vizinhos fossem ao play ver o que rolava. Alguém desceu com uma potente lanterna, que parecia aqueles canhões de luz. Belchior desceu também, claro, precisava verificar o que acontecia. Enquanto isso, eu procurei as nossas velinhas e acendi. A rádio Belchior voltou e me informou que uma parte da nossa encosta estava caindo. Depois do bafafá e da chuva continuar torrencial, não conseguimos mais dormir direito e brincamos de bichos da luz, conversamos e o papo acabou. Adormecemos...

Às 6 da manhã ficamos extremamente assustados com a intensidade da chuva. Mais vozes eram ouvidas e os vizinhos tinham voltado ao play. Belchior trocou de roupa e foi até lá, claro. Ainda estávamos sem luz e precisávamos de notícias frescas. Nosso play estava completamente alagado. “Casadona, parece um açude. Nossenhora!”, dizia meu marido com o tênis encharcado após a expedição. De repente, a outra parte da nossa encosta desabou, destruindo a piscina do prédio. Ficamos assustados, a correria voltou. Vizinhos desceram mais de dez andares de escadas para verificarem o que realmente tinha acontecido. Nós presenciamos tudo com vista privilegiada. Rapidamente Belchior, o fotógrafo, pegou sua máquina Nikon 6.2 e registrou todos os momentos.

Ainda estávamos sem luz, sem um radinho de pilha para ouvir as notícias. A única coisa que nos restava era o telefone e várias pessoas nos ligavam para passar as últimas notícias. Fiz um café gostoso, quentinho. Bebemos e ficamos jogando conversa fora. Impressionante como resgatamos algumas coisas quando estamos nessa situação. As pessoas ficam mais unidas, conversam mais, se solidarizam, o espírito de equipe renasce.

Belchior, meu rádio notícia favorito, não parava de descer e subir para encontrar os vizinhos. Com isso ele me passava notícias fresquinhas. Ele sempre com esperanças e eu sempre assustada. Se não bastasse sua veia artística e jornalística, um primo dele, que trabalhou em Curitiba, o indicou para ser entrevistado sobre a calamidade que ocorria. Belchior a postos, atendeu o telefone prontamente e passou todas as informações para o jornalista.

“Coisa horrível, cara. Nunca vi isso não. Aqui nós tivemos a nossa encosta destruída sobre a piscina. Tenho fotos sim. Te mando assim que der. Estamos sem luz desde uma da manhã. A sorte é que a gente mora na rua do prefeito”. Desligou o telefone todo bobo. Sairia como personagem na Gazeta do Povo! Belchior, o personagem! E o jornalista continuou ligando para ele durante a semana para saber mais notícias. Mas aí ele cansou, porque a veia artística para ele tinha prazo de validade para o mesmo assunto. Fica sem graça e cansa ...Rsrs

Além de ter se tornado celebridade, quando a chuva deu uma trégua, resolvemos colocar o casaco, tênis, meia, e fazermos uma caminhada ecológica e documentamental para ver os estragos do bairro. Realmente uma catástrofe.

Quando voltamos, nada de luz ainda. Fiz um almocinho à luz de velas. Como ninguém saiu de casa naquele dia, o jeito era aproveitar e descansar. Aquela soneca da tarde foi revigorante, até porque não pregamos o olho direito durante a noite. Mais tarde a luz voltou. A encosta continuava a cair.

Não se passaram 5 horas da nossa tão querida luz e voltamos a ficar sem ela novamente. Naquela noite foi difícil dormir. Armamos o acampamento na sala (mais perto da porta, caso acontecesse algo), com as velinhas acesas. Nada de TV, nada de nada. Ficamos ouvindo o som da chuva, da terra caindo (absurdamente ruim). Parecia que, a qualquer momento, a encosta toda viria abaixo e sobraria para nosso apartamento.

O jeito para Belchior era sempre se divertir. Seu prazer foi ficar me dando sustos até adormecermos. “Você está ouvindo o que eu tô ouvindo”? Não, Belchior. Quer parar de palhaçada!! Você sabe que eu não gosto de sustos! 5 minutos depois - “Tô vendo um vulto ali. Tô com medo”. Belchior, paraaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!!!!!!!!!!! "Ahahahahahhaha"

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Belchior, o churrasco e o vale night na terrinha


Belchior acordou mal. Ou melhor, foi acordado. Passou a manhã toda deitado na rede. Tínhamos combinado na véspera que faríamos um churrasco no sítio do G. Cheguei a realmente pensar que ele não beberia mais. Até porque poucas vezes o vi assim. Doce engano, claro.

Às primeiras movimentações dos amigos e do C., irmão mais velho do Belchior, a ressaca foi embora e nada melhor do que começar a beber para curá-la. O churrasco foi para poucas pessoas, mas nos divertimos bastante. Histórias e mais histórias, causos, vida alheia. Éramos 7 amigos em volta de uma mesa, cercados pela natureza, plantações, piscina, aquele cheiro e aconchego do interior. Rendemo-nos ao calor das emoções. Cada um contou um pouco mais da sua vida, choramos, rimos, brincamos. Tudo regado ao mais puro líquido precioso: dá-lhe cerveja.

Belchior saiu de lá louco. Os olhos nem abriam direito. Foram dois engradados para praticamente 4 pessoas bebendo. Quando voltamos para casa, ele me pediu: “Amor, posso tomar a última cervejinha com M.J. no bar? Depois vou para casa, pois amanhã vamos sair cedo”. Claro que não hesitei e fui para casa. E claro também que sabia que não seria uma cervejinha. Seriam muitas cevadas.

A cidade estava toda voltada para a festa tradicional do feriado da Páscoa: a Piscinália. Isso mesmo!! Quando ouvi esse nome pela primeira vez tive uma crise de risos. O que seria uma Piscinália? “Casadona, como vc não sabe o que é Piscinália? É uma festa no clube em volta da piscina, ora”. Não agüentei! Era tão óbvio assim? Alguém já tinha ouvido falar nessa festa? Enfim...

Mas, dessa vez, tínhamos combinado de não irmos. Belchior já havia bebido muito, dirigiria no dia seguinte. Eu até que queria ir, achei legal a festa no ano passado. Não precisávamos ficar muito tempo lá. Porém, com Belchior não há limites e se ele teve esse senso de não irmos, melhor assim.

Tomei um banho quente, sentei na cozinha, comi mais um pouco de strogonoff de chocolate (rsrs a-d-o-r-o) e fiquei proseando com minha sogra. Pensei que ele chegaria lá pela meia noite. Fomos para a sala de TV. Altas Horas começando. Altas Horas com metade da programação rolando. Nada. Quando o cansaço já me vencia, fui deitar. E nada do Belchior. Cara, era inacreditável. Se não fomos à festa porque ficaríamos cansados e ele tinha que deixar o álcool do feriado evaporar para dirigir, por que estava na rua às 1:30 da manhã bebendo ainda?

Aí começam a passar várias coisas na cabeça de uma mulher que tomou um perdido. Um perdido do marido de pouco tempo!! Ai meus sais! Com 10 meses de casados! Das duas uma, pensava. Ou ele está enchendo a cara e esqueceu o combinado ou ele foi para a festa!! Olhava o celular e nada. Tentava dormir, relaxar, affffff.

Exatamente às 2:30 Belchior entra no quarto, pé ante pé, achando que eu estaria no décimo sono. Mal ele se acomodou na cama e eu já levantei pagando esporro. Que irresponsabilidade! Onde vc estava? “No point da cidade, amor. Encontrei mais um monte de gente. Por fim, fiquei aqui na porta de casa conversando com minha prima”. Você está mentindo! Isso é um absurdo e blábláblá.

O tempo fechou e não abriu mais até chegarmos de viagem e irmos direto para casa da minha avó. Páscoa era Páscoa. Mas é aquela história. Não dá para ficar com raiva de Belchior por muito tempo. Isso é um problema.
Quando saímos de lá, ele pegou filme. Fez chamego, carinho. Também não estava mais com saco de ficar falando. E até hoje não consegui tocar mais no assunto. Mas que o perdido está engasgado na minha garganta, está. Ele pegou um vale night sem me pedir, mas esqueceu de pensar que o vale night é duplo!

quarta-feira, 7 de abril de 2010

30 posts!! Belchior e a terrinha



Quem diria! Já estou no 30º post aqui do blog e a listinha do meu bloco não para de crescer com tudo que Belchior faz por aí. Se levarmos em consideração que comecei este blog no primeiro dia de dezembro e estamos em abril, temos uma boa média de histórias verídicas, diga-se de passagem, de um personagem vivo que dorme ao meu lado. Isso porque as histórias, em sua maioria, são repletas de fatos que procuro colocar no mesmo texto. Se tudo der certo, no fim do ano chego a 100 posts, o que pode ser um bom número para outras idéias! Quem sabe um livro ou uma peça de teatro, do tipo ‘Meu marido é uma peça’? Sonhar não custa nada. Rsrs

Deixando os meus delírios de lado, vamos ao que interessa. Passamos o feriado da Páscoa na terrinha, com os familiares e amigos de Belchior. Chegamos na quinta bem tarde da noite e meu marido, surpreendentemente, não quis ir para rua. Preferiu descansar, pois iria tomar uma cervejinha de manhã, antes do almoço. “Amanhã vou tomar uma gelada cedo, amor”. Essas coisas que ele só faz, segundo ele pensa (rs), quando está na terrinha. Tá bom.

Às 8h em ponto o celular dele tocou. Era trabalho. Belchior tomou café com os pais, tomou um banho e saiu direto rumo à rua, ao bar! Claro que não me avisou, eu deduzi quando acordei e ele não estava em casa. Isso, queridos leitores, às 9h em ponto, o bar ainda levantava suas portas, o sol estava começando a dar o ar da graça, o cheiro da manhã ainda estava fraco, mas ele já estava a postos para iniciar seus trabalhos. Como ele já tinha me adiantado seus passos na véspera, acordei um pouco mais tarde, tomei um café gostoso, respirei o ar da manhã fresca, dei uma volta pelo jardim, sentei na calçada, eu e minha sogra ficamos de papo, colocando as novidades em dia.

Perto do almoço, resolvi encontrá-lo. Não foi difícil saber onde ele estava, pois o principal bar da cidade, o point de todos, era num bar na esquina da casa dele. Nada melhor, não?!! Fiquei um pouco lá, aos poucos outras pessoas apareceram e voltei sozinha para casa para almoçar com meus sogros na Sexta-Feira Santa. Ele só apareceu quase às 15h, muito para lá de bragatá, deitou e dormiu.

Quando acordou, fomos ao encontro dos amigos, em outro bar, claro. A conversa foi ótima, aos poucos outros amigos foram chegando e a mesa ficou cheia. Vários assuntos em dia, fofocas aos montes (sem isso não é ir para terrinha). Belchior, que além de artista adora falar da vida alheia, começou: “Você não sabe da última? Fulano da beltrana, sabe? Aquele meio estranho, pois é, cara, virou viado! Tá dando para todo mundo. E pior: a mulher dele também tá dando para todo mundo”. Mas, o Fulano era primo de um dos nossos amigos, presente na mesa! “Que isso, Belchior. Fulano é meu primo. Ah, não tá acontecendo isso não. A esposa também fazendo isso? Não, isso é intriga da oposição. Muita gente não gosta dele aqui na cidade”, completava G., nosso amigo.

Para quem está de fora, essa fofocada toda é uma delícia. A gente não conhece as pessoas, os fatos são absurdamente bizarros (coisas que só acontecem na terrinha) e a gente rola de rir porque sempre tem um exagero enorme de quem conta.

Belchior naquela noite estava inspirado! Depois de relatar todas as fofocas e mexericos, deu um show. Primeiro chorou e se emocionou ao ver a amiga de infância que está grávida. “Eu acho tão lindo mulher grávida. Tô emocionado”. Depois, para completar, começou uma série de interrogatórios ao casal. Só não me escondi debaixo da mesa, ou melhor, só não fui embora porque não sabia voltar para casa!

“V. deve ser emocionante ser pai, né. Nossa, muito maneiro. Tô muito feliz por vocês”. Dizia ele entre um gole de cerveja e outro. “Mas, aqui, eu tenho uma curiosidade. Como anda a vida sexual de vocês? Isso mexe muito com a relação? A freqüência não é a mesma, né. Não tem como ser. Mas vocês transam direito, né”? Hããã?? Não acreditei. Ele tá pirando. Arregalei os olhos querendo fuzilá-lo, mas ele não estava nem aí. Isso é coisa que se pergunte? Quando eu penso que já vi e ouvi de tudo que Belchior fosse capaz, ele sempre manda mais uma, ou melhor, mais umas! Ficamos animados com o papo e até esse blog virou assunto! E tome cerveja na mente! Na mente deles, tá. Lembrando que não bebo! rs Saímos do bar às 23h e Belchior ainda queria ir para a rua e boate! Haja pique e bebida!

Meia noite e já estávamos de volta! Chegamos ao bar (naquele point) e Belchior pediu logo duas doses de vodka absolut e red bull. Depois de passar o dia todo bebendo cerveja, desde às 9 da manhã, ele entrou na vodka. Às 2:30 entramos na boate e ele resolveu beber umas caipvodkas para completar. Claro que isso não ia resultar em boa coisa e, quando chegamos em casa, já amanhecendo, Belchior passou mal feio. Foi dormir na rede no jardim da casa. Para curar a ressaca, só mais cerveja no dia seguinte.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Belchior, o passarinho e o papagaio


Moramos num apartamento que tem uma linda mata bem pertinho, na frente da nossa varanda, distante poucos metros. Além de nos sentirmos fora da cidade, de termos uma visão super natureza, que enche os nossos olhos de satisfação, estamos próximos de uma natureza viva. Pássaros, insetos (nem tão legais assim RS) e miquinhos costumam nos visitar com freqüência. Algumas vezes pulamos de alegria. Outras vezes eu grito de medo e susto. Uma barata voadora grande, um besouro, várias abelhas, passarinhos tomando aguinha na piscina, alguns insetos não identificados dão rasantes pela nossa sala.

O fato é que nos últimos dias temos escutado muito de perto um canto que parece ser, segundo Belchior, de um filhote de passarinho. Claro que esse fato não poderia passar impunemente por ele. “Casadona, tô achando seriamente que esse passarinho fez ninho aqui em casa. O canto está muito forte, bem de perto”. Como assim, amor? Você está viajando. Já bebeu hoje? Como o passarinho faria um ninho aqui em casa? “Casadona, os passarinhos costumam fazer ninhos em lugares escondidos. Com certeza eles fizeram aqui em cima da sanca da sala. Vou subir um dia e averiguar. Você não entende nada”.

Apesar de achar que Belchior estava louco, havia um certo sentido no que ele falava. Realmente o canto é muito próximo. Mas até agora ele não subiu para verificar onde está o ninho.

O problema é que isso despertou nele um sonho antigo: ter um papagaio. Essas coisas que a gente não entende. O canto do nosso possível hóspede, o passarinho misterioso, e a proximidade com a mata que nos cerca despertaram em Belchior as suas raízes do interior. Para meu desespero, claro. Sim, ele quer um papagaio, que dura 60 anos, morando com a gente, falando as besteiras que ele ensinar, um bichinho de estimação que ele pode domar, um discípulo de suas loucuras e brincadeiras. Um animal artista com um dono igualmente artista.

Eu não quero um papagaio. Até acho engraçado quando vejo algum que fala e tal. Mas não sou chegada a bichos. Só gosto de tubarões e tenho medo deles, claro. Sou meio excêntrica, mas maluca jamais! RS Agora conviver com um papagaio falando descontroladamente, que quando eu chegar em casa cansada, querendo paz, Belchior vai estar vendo televisão ao lado do seu papagaio, querendo me mostrar as últimas novidades do repertório da ave??!!! Quando eu quiser dormir, o bicho vai ficar tagarelando, grunhindo?? Nãooooooo, não quero!

Mas Belchior não me ouve. Ele que é tão liberto, tão solto, tão desprendido, que gosta de viajar, sair. Não vai dar certo. Ele vai ter que se preocupar com o bicho. Mas o caso é grave. Ele não quer saber e já está contando para todo mundo que vai comprar o bicho.

Fomos para a terrinha de Belchior no feriado. Ele falou com os pais que queria comprar um papagaio assim que chegamos. Foi na loja que vende bichos da cidade. Quando o vi voltar, ele já chegou dizendo: “Comprei. Vão entregar lá em casa”. Suei frio. “Tá de sacanagem, né? Como comprou? “Casadona, R$ 450. Muito bom preço, né”. Quando eu ia desmaiar, lembrei que ele era um artista. “Não comprei ainda, mas já deixei encomendado. Vão entregar lá na casa dos meus pais”. Não tinha. Graças a Deus.

Mas estou avisando com antecedência, caros apreciadores deste humilde blog, não vou suportar o trio ternura: Belchior + cerveja + papagaio. Imaginem o que virá pela frente.