quinta-feira, 24 de março de 2011

Espelhando a alma em prosa


Depois que escrevi essa ‘crônica’ sobre a dura lição de tentarmos aprender a conviver com a gente mesmo, comecei a refletir sobre a alma, o nosso íntimo e resolvi renomear momentaneamente esse blog aqui de ALMA EM PROSA. Casada com cerveja também é alma e muita prosa! Agora que vocês me deram a chance e o palco, também vou postar um pouco das minhas ‘viagens emocionais’ e misturar um pouquinho de crônica, poesia e rock’n roll.

Quando, no último fim de semana, dei asas à minha criatividade, ao meu lado poético e arteiro, de brincar de escrever com batom no espelho da sala, percebi que isso tinha a ver com a minha infância. Puxando lá das profundezas, lembrei que quando pequena (em idade, ta, gente, vocês sabem que em tamanho pouca coisa mudou rs) tinha um quadro negro e, simplesmente, amava passar horas a fio escrevendo, rabiscando, desenhando no meu mundinho particular. O primeiro palpite da família era de que eu seria professora, claro. Mas mal podiam imaginar que minha sina mesmo era ser jornalista e que meu sonho mesmo, de verdade, é ser escritora, mais precisamente cronista!

Esse quadro ficava na casa dos meus avós, no meu canto favorito do quintal, onde eu podia ficar ali quietinha, sozinha, escrevendo minhas ideias de criança, rabiscando minhas primeiras frases de poeta, mas sem notar que estava sendo observada pelas pessoas mais queridas. Ao fim do domingo, deixava mensagens de carinho e amor para meus avós, que passavam o resto da semana curtindo a saudade através da minha escrita, aguardando o próximo recado da semana vindoura...

Sonhos à parte, resgatando ainda mais o passado, lembrei que minha mãe me admirava muito e sempre percebi um quê de satisfação pessoal, como se ela estivesse se realizando junto comigo. Claro que isso é normal em pais que amam de verdade seus filhos e acreditam neles, mas eu percebia um algo mais especial. Ela também adorava escrever, amava poesias, poemas, era romântica, intensa e ‘poliana’, assim como eu!

Isso tudo para refletir um pouco em como, querendo ou não, consciente ou não, somos o espelho de nossa criação, das atitudes e desejos de nossos pais. Já pararam para pensar em quantas vezes repetimos atos, gestos, opiniões, reações e tantas coisitas mais, de forma, simplesmente, idêntica a deles?

Fico chocada quando me pego nessas situações, que acabam fugindo ao controle e nível de consciência! Por infinitas vezes, me peguei repetindo frases ipsis litteris, em contexto parecido, o que minha mãe falava, principalmente em situações difíceis. Chego a ficar arrepiada quando bate a consciência e penso: “Meu Pai do Céu, como estou repetindo isso. Parece até que não era eu quem estava falando”.

O pior é que, na maioria das vezes, apesar de amarmos nossos pais, o que menos queremos é repetir suas atitudes, seus erros, suas manias, contestações... Sem querer e até mesmo lutando contra isso, infelizmente somos o reflexo e o somatório de nossa própria criação, de nossos exemplos. E quanto mais velhos ficamos, mais essas evidências pipocam nos nossos atos mais corriqueiros...

Conheço pessoas (e são muitas) que, a todo momento, vivem um dilema emocional por isso. Não querem ser desse jeito, agir dessa forma, criticam os pais com muita veemência, mas inevitavelmente carregam e transbordam o estigma pelo qual estão lutando. Eu mesma sou assim. Amo a minha mãe de uma forma incrível, choro a sua ausência todos os dias, sinto uma dor que parte meu coração em dois, mas nem por isso, concordei com suas atitudes, sua franqueza exacerbada, sua metade ‘cavala’, seu humor oscilante. Mas não é que fico assim tantas vezes?? E o pior é que sempre fui o oposto, mas acho que chega uma hora em que não conseguimos mais segurar isso e a gente repete e age igualzinho...

Como diz a sábia música do nosso Belchior de verdade, cantada com maestria pela nossa querida Elis Regina, “ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais”. Não que isso seja ruim, de modo algum. É apenas um jeito bom de se aceitar e se deixar viver...

quarta-feira, 23 de março de 2011

Sei lá, mil pensamentos e poesias


Peço desculpas a vocês, seguidores, pois sei que gostam mesmo são das histórias e bagunças de Belchior. Mas eu tô afim mesmo é de falar de algumas outras coisas por aqui. Vou quebrar o protocolo e me sinto à vontade para isso neste momento, de compartilhar com vocês umas ideias, sensações e outras doideiras mais por aí.

Ás vezes, a gente precisa dar uma acalmada na vida, nos ânimos e tentar se descobrir melhor. Esse papinho é meio balela, mas também é meio verdade. No fundo, eu acho que a gente não se conhece muito bem mesmo. Poucas são as pessoas que convivo hoje que se permitem a sua bela companhia. Pode parecer prolixo, mas não é. Estamos sempre à procura do que fazer, com quem fazer, de sair de casa. Programa bom é aquele que várias pessoas estão juntas, em algum lugar qualquer desse mundo. Ficar em casa, sozinho, se curtindo, passar aquele sábado ouvindo música e olhando para o teto é bom, mas tem hora para acabar. Bom mesmo é receber aquela ligação e curtir uma bebidinha e um bom papo lá na esquina.

Escrevo isso por experiência própria. Apesar da aparência tranquila, sou mega agitada, não paro um segundo dentro de casa, raramente relaxo quando estou deitada (a não ser que esteja morta de sono). Quando coloco uma música, tenho que levantar, pular, pulo a música porque tem outra melhor na outra faixa, pego a letra na internet! Acho que a gente consegue tolerar bastante a convivência com os outros. Mas e com a gente mesmo?

Posso até ser meio louca de questionar essas coisas, mas por muitas vezes me pego na minha própria cia e isso me desagrada. Claro que, como uma boa libriana, logo me pergunto: será que sou tão insuportável assim para os outros também? Por que será que é tão difícil ficar sozinha comigo mesmo?

Li outro dia um artigo da Martha Medeiros excelente sobre este assunto. Ela declarava o quão difícil é convivência com ela mesma. O que a gente faz quando estamos de saco cheio de nós? Sabe-se lá, né. Vamos para o barzinho mais próximo que a gente resolve isso rápido!

Bem, fiz uma experiência no último fim de semana. Isso, sozinha, pensativa, curtindo. Não é possível que eu conviva com tantas pessoas e elas não gostem da minha cia. Sinal de que sou legal e eu mesma tenho que descobrir isso em mim. A questão é: sou legal comigo assim como sou com os outros?

Infelizmente a minha resposta é não. Tenho tanta paciência com os de fora, mas não tenho comigo. Sou mega exigente, tenho que resolver todos os problemas e rápido, sofro porque não estou no peso ideal, porque não consigo estar bem disposta sempre, sinto sono cedo, porque tô cansada, carente. Quero melhorar os meus defeitos, ser perfeita, me adequar à vida dos outros, à profissão, ser uma bela mulher, bela esposa, bela profissional, bela amiga, bela companheira, bela dona de casa....

Será mesmo que essa exigência nos deixa bela, nos deixar viver? Percebi que, quanto mais exigia isso tudo de mim mesma, mais a convivência comigo ficava insuportável.
Para completar, isso acaba afetando também os relacionamentos em volta. Você fica tão de saco cheio de você, que isso se reflete no marido, namorado, nas amigas, no trabalho.

Porra e quando você tá mal, poucas pessoas tem tempo para te ouvir. A gente tenta jogar um verde aqui, outro ali. Abrimos o jogo com algumas pessoas. “Sei lá, não tô muito bem”. Mas a resposta é mais ou menos a mesma: “Liga não. Isso passa. É fase”... Depois de algumas péssimas experiências, cheguei a conclusão mais lógica, simples e difícil. Na verdade, devemos dar ouvidos à nossa própria voz...

Conheço pessoas que fazem isso muito bem. Diria até mesmo que de forma exemplar. Comecei a me arriscar em alguns testes que, para minha surpresa, foram muito positivos! Porém, ainda não cheguei ao ideal de convivência.

Enfim, passei uma tarde inteira comigo, ouvindo música, cantando, conversando sozinha. E senti uma sede de poesia. Naquele dia constatei que precisava de mais poesia em minha própria vida. Comecei a escrever versos no meu espelho da sala. Versos meus, de Drummond, letras de música. Acho que a vida fica mais gostosa quando temos uma dose de poesia por dia. Vou comprar um quadro e escrever nele diariamente. Decisão tomada.

Descobri que preciso, gosto e quero isso desesperadamente para mim. Fiquei super feliz ao rabiscar de batom vermelho meus dois espelhos e enchê-los de palavras. Foi como se tivesse comido um bolo inteiro de morango com chantilly! Endorfina pura na veia! Descobri, ou melhor dizendo, constatei também que sou louquinha, que gosto dessas maluquices e quero ser artista. Artista da minha própria vida.

Bem companheiros deste blog, desculpem a escrita sem piadas. Mas a poesia também faz bem para a alma!

quarta-feira, 16 de março de 2011

Belchior e as estátuas fumantes


Bem, Belchior continua sua saga de irreverências e, claro, precisamos atualizar isso aqui logo!! Sei que estou atrasada, mas a vida anda corrida e para dar conta de tudo, infelizmente ando sacrificando as minhas ideias cibernéticas e a criatividade literária precisou ficar um pouco de lado. Balá blá blá de lado, vamos aos fatos!

Sexta-feira, dia 18 de fevereiro, dia do show mais esperado para mim. Estava louca, sedenta de vontade de ir ao show da cantora Maria Gadu. Belchior me presenteou com os ingressos e tudo seria lindo, até mesmo porque o show era no Morro da Urca! Quer cenário mais lindo e delicioso??

Voltei para casa após o trabalho, pois precisava me arrumar descentemente, tirar um cochilo e me preparar para o show! Quando cheguei, a casa em silêncio. Ainda sem ligar a luz, fui quietinha até a varanda e, eis que encontro Belchior com a garatoda do prédio bebendo em volta da piscina. Ele me viu chegar e tratou de vir me fazer um afago. Bem, deixei que ele ficasse bem à vontade lá no play e fiz as minhas coisas com calma, feliz e contente! A biritada durou até quase às dez horas, quando saímos correndo de casa.

O problema é que ele chegou num brilho só, radiante, gritando, pulando. Simplesmente parecia que íamos a um show de samba, numa quadra da escola de samba. Os tamborins imaginários deles não paravam de pular, gritar, zuar. Infelizmente tive que avisá-lo que íamos a um show romântico, lindo, para curtir bem a dois. Arrepiei-me de pensar que Belchior não estava pensando desta forma....

Chegamos ao Pão de Açúcar e a farra começou já no bondinho. Ele estava frenético, gritando e cantando. Todos olhavam surpresos, claro. “Se essa porra não virar, olé, olé, olá”, misturado com os comentários do tipo “Nossenhora, tenho medo de altura. Companheiro, essa porra é segura mesmo? Ai meu Deus tenho um medanado”...

Bem, senti que minha noite seria cheia de emoções. Todos no maior love, clima romântico e vem um engraçadinho e fica gritando no bondinho??? Sabe aquela vergonha alheia? Aiaiaiai, eu queria me enfiar debaixo de algum lugar, que não tinha ali, lá lá lá lá, quem é esse aí? Não conheço não! Brincadeira, amor, mas foi phoda com ph te aturar naquela noite sem noção!

Mas, não adiantava eu reclamar porque a resposta nunca era: tá bom, amor, vou entrar no clima. Era sempre : “Larga eu beber mais, quero curtir, uhuhuhuhu, vamos dançar”...
O show começou e Belchior continuava a mil e, claro, acabou dizendo que o show era chato, igual ao DVD que temos. Mas o que ele estava esperando? O Bailão do Ruivão? Rock’n roll? Pagode, samba e axé?

Apesar de louco e sem noção (saiu do show umas 10 vezes no mínimo para comprar bebida, ir ao banheiro e etc), fez amizade com um velhinho que estava trêbado e sozinho, confirmando tudo que o cara dizia – “Você é o rapaz que me levou da última vez que estive aqui no Rio para Barra, não é? Claro que sou eu! – o grand finale ficou por conta de duas estátuas!!

Belchior, antes de irmos embora, ficou encantando a estátua de dois caboclos (que guardei o nome durante dois dias, mas já esqueci). As estátuas de bronze estavam perto de uma réplica do bondinho para os turistas tirarem fotos e a outra bem próxima.

Pois bem. Belchior conversou com as estátuas, colocou os velhinhos para fumarem (isso mesmo, pasmem vocês)! Como toda habilidade do mundo e com aquele know how de quem pita um cigarro com muito prazer, ele sacou um cigarrete do seu maço, acendeu pacientemente (lá venta bastante e essa tarefa não é tão fácil) e colocou na boca da estátua. De um modo perfeito. As pessoas em volta riam de se acabar e ficaram acompanhando o processo com a cara de quem diz que na está acreditando no que está vendo. Assim também ficamos eu, meu irmão e sua namorada. Boquiabertos, acompanhando de longe.

Mas o pior não foi só isso! O pior é que, depois de tudo, a estátua fumante virou atração do local. Teve até um grupo de meninas que se divertiram muito com isso!!! Elas, inclusive, tiraram foto com a estátua fumante, pediram licença ao senhor de bronze e deram vários tragos no cigarro, que há instantes havia caído no chão e Belchior, com todo seu compromisso com seus amigos, foi lá recolocar o cigarrinho...

Ele fez isso com a outra estátua também e duas mulheres que estavam sentadas ao lado ficaram impressionadas. Não sabiam se riam, se aplaudiam, se diziam que ele era louco e bêbado. O fato é que a loucura de Belchior rendeu várias risadas e diversão no fim da noite, depois do show, quando todos já estavam exaustos.

E, com isso, ele voltou para casa feliz e contente, com a sensação de ‘dever cumprido da minha maluquice de todo fim de semana’ e com o plus de ainda ter divertido não só as pessoas que conheço, mas vários personagens da noite!