quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Alma em prosa


Voltei do Carnaval, esse período de descanso e folia, e me animei. Estou animada com as possibilidades de um ano de conquistas, de alegrias, de amor, de gentileza. Eu cheguei aqui no escritório com uma sensação boa, com energias vibrantes e muitas ideias na cabeça. Quando você curte o que você faz, embora tenha muitos percalços pelo caminho, as soluções se tornam mais fáceis.

Ainda que esse 'gás' tenha me tomado como um todo, recebi uma notícia que me deixou triste e pensativa. Com certeza vocês podem estranhar esta comoção de minha parte. Mas ela é real. O chefe dos porteiros do prédio em que trabalho faleceu. Seu Joaquim.

Nós viemos para este prédio no meio de 2011 e, durante todos os dias (todos mesmo), eu chegava na fila de espera do elevador e era recebida com um sorriso e um bom dia do seu Joaquim. Fazia chuva ou sol, ele sempre fazia questão de me cumprimentar. Sem saber quem eu era, de onde eu vinha, para onde estava indo. Simples, singelo. Pura gentileza, simplicidade e carisma. Quando estava longe, acenava com a mão. Traduzia em gestos seu bem querer. E isso não era só com a minha pessoa diretamente. Era com todos.

Seu Joaquim fará muita falta nas manhãs de quem chega a este prédio. Lamento muito que mais uma alma caridosa e gentil tenha partido. E olha que estou ficando escolada nesse quesito. Perdas já me feriram demais. Mas não me permito ser indiferente a elas. A morte de alguém, mesmo não muito próximo, ainda toca demais o meu coração. Não serei inerente à falta que pessoas de bem fazem nesse mundo tão difícil, intolerante e individualista, onde as pessoas estão mais interessadas no seu próprio umbigo. E, cada dia mais, comprovo essa situação. A gentileza, o carinho, a doçura estão se perdendo em meio aos nossos mais sérios e triviais dilemas pessoais.

Faço um trabalho interno diário, porém sei que às vezes não funciona como deveria. Mas tento não trazer da rua os problemas, as decepções, as adversidades e tristezas lá de fora. Deixo na porta da minha casa, do meu lar, da minha paz e alegria o que não me fez bem durante os dias. E rezo para que pessoas como minha mãe, minhas avós, meu avô e seu Joaquim possam transmitir essa gentileza e serenidade aos pobres de nós, egoístas, habitantes deste plano de vida. Não sabemos o que nos espera do outro lado da existência...

Eu sou da tribo que aplaude o sol nascer, que dá valor aos pequenos gestos, que tenta, ainda que com falhas, transmitir e retribuir as gentilezas. Sonhadora, idealista, romântica? Talvez, é provável que sim. A decepção é quase certa, mas nada melhor do que a possibilidade de fazer o bem. Talvez o meu ‘bom dia’, proferido a todos em todas as manhãs, leve um pouco de energia e paz de espírito para pessoas que, assim como eu, recebiam isso do seu Joaquim. De coração aberto.

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