terça-feira, 15 de junho de 2010

Belchior, o casamento e o aeroporto




Penetra não seria o termo mais exato para a nossa ida ao casamento. Fomos convidados pelos padrinhos dos noivos que fizeram questão da nossa presença. Ok, tudo certo. Claro que isso não me daria o direito de chegar e me sentir como parte total da festa. Ficaria mais na mesa, com nossos amigos, afastada da galera. Afinal, ninguém nos conhecia lá, a não ser o nosso casal de amigos gaúchos.

O problema foi que, à tarde, ao me deixar no salão de beleza lá na cidade dos nossos amigos sulistas, Belchior conheceu o noivo jogando playstation em plena tarde do casamento. E o noivo é super animado, doidinho como Belchior. Pronto, foi a deixa para meu marido se comportar como um convidado VIP da festa.

Mal chegamos ao salão e as mesas já estava ocupadas. D., nosso amiga, ficou procurando meios de colocarem uma mesa para a gente, até porque tinham muitos amigos deles em pé. Mas isso não era problema para Belchior, que logo pegou uma garrafa de cerveja, pediu ao garçom um balde com as bebidas e gritou bem alto que o lounge estava ótimo. Ainda pediu um pratinho de salgadinhos e serviu o pessoal.

Eu queria me enfiar embaixo do puff, mas mantive a serenidade e o risinho preso no canto da boca. L. (o nosso amigo) comentou: “Belchior não existe, né. Já está enturmado”. Ainda bem que ele tinha consciência disso e eu não precisava morrer de vergonha alheia.

Aos poucos Belchior foi se soltando ainda mais. Abraçou a noiva e desejou toda a felicidade do mundo. “Você não me conhece, mas to muito feliz por vcs! Parabéns ai”, e abraçava a noiva, que respondeu: “Não conhecia vcs, mas sabia que viriam”. Quando ele viu o noivo chegando, aí que a festa foi grande. Abraçou, pulou, fez brinde. Tirou foto com a Polar, cerveja local, fez amizade com todos os amigos do noivo, que chegavam para mim e diziam: “Bah, seu marido é muito engraçado. Super gente boa”.

Pediu cerveja para o fotógrafo, subiu no queijo, não jantou para continuar bebendo, colocou os apetrechos do casamento, pedia mais coxinha de galinha, me dava um beijo, ia para o fumódromo, dançava funk, abraçava os nossos amigos e agradecia pelo ótimo feriado, foi tirar foto de penetra com todos os amigos e os noivos, pulava, colocou a rosa do arranjo na boca, dançou como um malandro carioca e me deixava cansada só de olhar para isso tudo.

Eu, cabisbaixa e bem baqueada pela sinusite, além de estar morrendo de frio, assistia a tudo rindo e imaginando que ainda faltam cinco horas para irmos para o aeroporto.
Quando não me agüentei mais, pedi para tentar descansar um pouco no carro e fazer hora para o aeroporto. Pensei que Belchior ficaria comigo também e cochilaria um pouco. Doce ilusão, claro.

Ele me deixou no carro, me cobriu com os casacos e voltou para a festa. Não tive nem forças para ficar p da vida com ele. E ainda disse: Vê se não bebe demais, pois nós vamos para o aeroporto e ainda temos uma viagem pela frente. Essa foi a senha para ele encher ainda mais a cara. Apareceu no carro às 4:30 da matina trocando as pernas. Ele e o gaúcho, que tinha bebido muito também. Os dois estavam loucos. O táxi chegou junto e a passagem das nossas malas e muambas para o táxi dava uma palha do que seria meu voo. Os dois quase caíram com as coisas, jogaram tudo de qualquer jeito no carro e eu queria matar Belchior.

Ele foi dormindo até o aeroporto. Quando chegamos, saiu trôpego e rebocando as malas sem cuidado nenhum. Jogou a bolsa com os cacarecos, inclusive as canecas de brinde que ele estava tomando cerveja, e saiu andando disparado. Fez o check in, despachou tudo e nem me deu bola. Na hora de passar pelo dectetor de metais fiquei presa. Tive que tirar meu sapato, fazer o quatro, voltar e cadê Belchior? Já tinha sumido e encontrado seu canto para roncar até o voo. Sabe aquele clip da música do Zeca Pagodinho “Aquilo que era mulher”? Era isso. Literalmente.

“Chegou em casa outra vez doidão ...Brigou com a preta sem razão ...Quis comer arroz doce com quiabo ...Botou sal na batida de limão”

Na hora do embarque foi pior. Primeiro porque ele não acordava. Segundo porque quando acordou, dava dois passos e abaixava a cabeça como um bêbado rosnando e roncando em pé. É claro que TODOS OLHAVAM PARA ELE. Mas ele não se conformou com o homem que estava na frente dele na fila de embarque e começou: “O que cê ta olhando? Cara babaca”. Na mesma hora estremeci: “Belchior da Silva Sauro vou te enfiar a porrada na frente de todo mundo se você não calar a boca. Você está bêbado, exalando álcool e está me deixando muito irritada. Fica quieto senão você vai ficar aqui em POA e eu volto para o Rio sozinha.

Mas nada adiantava. Bêbados não te escutam nunca e querem mais é que você não fale nada. Eu queria me esconder, pegar outro avião, sei lá. Mas não tinha como, né. Tive que encarnar a mulher de bêbado com classe, fingir que tudo aquilo era normal e que as pessoas estavam loucas de nos olharem assim. Afinal eram seis da manha. Só pensava numa forma maquiavélica de me vingar daquele papelão. RS

Ainda bem que nossa fileira era a sexta e Belchior caiu como uma jaca madura na poltrona, fazendo com que todos olhassem assustados de novo para nossa cara. E ainda quis implicar com o cara da fila que olhou incrédulo para ele novamente. “Tá olhando o que, babaca”. Na mesma hora, puxei ele novamente e o fiz sentar. Deus me ouviu e ele adormeceu 10 segundos depois. Assim começou e terminou nosso dia em que completamos 1 ano de casados. Ele dormiu e eu fiquei com raiva o dia todo. Ainda bem que a viagem tinha sido maravilhosa para compensar.

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