terça-feira, 4 de maio de 2010

Belchior, mais terrianhalês e a filipeta


Os termos da terrinha e de Belchior são assuntos inesgotáveis. Os seus conterrâneos continuam me ajudando com suas histórias e com os termos para lá de diferentes usados pela intrépida trupe terriniense.

Vocês, por acaso, imaginam o que é estar xixico? Não, caros leitores, não é o que vocês estão pensando, relativo aquele período mensal da mulher. Estar xixico na terrinha é muito mais do que isso. E pior: é relacionado aos homens. Estar xixico é estar down, triste, remoendo aquele chute na bunda clássico dado pela mulher amada, principalmente se o cara foi corno. Dizem que Xixico era um cara maneiro e ficou jogado pelas esquinas e bares da terrinha quando sua mulher o abandonou, remoendo aquele sofrimento, aquele chifre, aquela ingratidão. Então, quando um homem está com dor de cotovelo, geralmente o diálogo é o seguinte:

“Sabe fulano? Fulano da dona Mariquinha (as pessoas não são fulanas de tal. São fulanas da mãe ou do pai deles, conhecidos na cidade. Você nunca é você mesmo e sim você é da sua família. Ex: Belchior da J. ou do A.)? Então, ele tá xixico, coitado. Dizem que a mulher dele o traiu com o sicrano da padaria. Foi pega no flagra. É flagrante”!

Outros clássicos da terrinha são: ponta de aterro, cascalho de pedra, zinabre (essa é sensacional, parece vinagre) e bobice. “Tu é maior ponta de aterro, hein. Não vale nada! Também quem mandou pegar aquele zinabre? Ahahaha”. “Para de ficar falando essas bobices na frente dos outros”. No interior, os finais ‘eira’ são transformados em ice. Acho que eles procuram um lado mais prático de se falar as palavras. Afinal, bobeira soa muito mais difícil do que bobice, que parece com chatice.

TRADUÇÃO
Ponta de aterro = cara levado, ruim
Cascalho de pedra = igualmente ruim
Zinabre = mulher feia (deve ser muito feia mesmo, hein)
Bobice = bobeira

Nessa roda de causos, histórias e palavras inusitadas, um grande amigo de Belchior me contou o seguinte episódio. Belchior havia se mudado há pouco tempo do interior para a nossa cidade. Um dia, para começar a entrar no clima do novo local de moradia, ele e seus dois conterrâneos mais próximos resolveram ir a uma festa badalada.
Quando Belchior ligou para H. para perguntar se eles já estavam prontos, H. disse que o outro H. tinha descido para pegar as filipetas, já que com filipeta o ingresso da festa seria mais barato. Eis que Belchior teve um ataque de nervos e começou a gritar: "Quem é esse tal de Filipeta?! Não conheço esse cara! Vamos embora que está tarde! Não vou esperar uma pessoa que eu nem conheço! Assim vou acabar perdendo a festa! Dane-se se ele tem contato e a gente vai pagar mais barato”!

Palavras finais do amigo H. “Se Belchior é capial hoje em dia, imagine naquela época”. Pobre do meu marido que não conhecia as filipetas de descontos das festas da cidade grande...

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