segunda-feira, 12 de abril de 2010

Belchior, o repórter da rádio corredor e fotógrafo do temporal





CRÉDITOS DAS IMAGENS: BELCHIOR DA SILVA SAURO

Na semana passada resolvi continuar a escrever sobre Belchior e a terrinha por dois motivos: primeiro para que não ficasse tão velho o assunto e segundo porque estávamos vivendo uma semana caótica em meio a tantas desgraças, principalmente na nossa cidade, e já bastavam todas as notícias na TV, rádio, internet e jornais sobre isso.

As chuvas castigaram o Rio de Janeiro e acho que ninguém saiu impune ao fato. Claro que a maioria das pessoas, assim como eu e Belchior, sofreu alguns danos, mas nada se comparou ao que ocorreu com os moradores de encostas e favelas da região. Enfim, vou contar aqui um pouco da nossa história, deixando bem claro que não é nada perto do que as outras pessoas sofreram. Fica aqui a nossa solidariedade e indignação diante da falta de ética e compromisso das autoridades.

Bem, era segunda-feira, dia 5 de abril, por volta das 18h. Um temporal daqueles que pareciam cenas de alguns filmes de Hollywood. Belchior havia trabalhado de casa e eu estava no Rio. Demorei bem mais tempo do que de costume para chegar em casa, com ônibus absurdamente lotados. Consegui pegar uma barca e depois outro ônibus, em que fui a última a entrar. Fiquei naquele último degrau da escada, sendo amparada pelo braço do trocador. Depois de quase 2 horas, aportei em casa com uma grande surpresa.

Belchior estava exausto, suado, mal humorado. Simplesmente nosso apartamento estava alagado. Quando ele chegou em casa, após uma ida ao supermercado, os vizinhos estavam todos na porta, com rodo na mão e escorrendo a água que jorrava de nosso apartamento. Deus sabe o que faz e ainda bem que ele chegou primeiro. Era enfarte na certa se eu entro em casa depois de todo perrengue e ainda vejo o alagamento.

Moramos no primeiro andar depois do play e temos uma área enorme que é do prédio, mas a gente ‘administra’. Nessa área, passa a calha do prédio, que não suportou a quantidade de chuva e transbordou. Belchior limpou tudo, tadinho. Pensando bem, nem tão tadinho assim, pois eu sempre limpo e arrumo tudo! Aff!!

OK, ok, ok. Os humores de ambos não estavam dos melhores. Exatamente à 1h da matina fomos acordados por um barulho e uma iluminação que vinha do play. Estávamos sem luz e um barulho grande de desmoronamento fez com que os nossos vizinhos fossem ao play ver o que rolava. Alguém desceu com uma potente lanterna, que parecia aqueles canhões de luz. Belchior desceu também, claro, precisava verificar o que acontecia. Enquanto isso, eu procurei as nossas velinhas e acendi. A rádio Belchior voltou e me informou que uma parte da nossa encosta estava caindo. Depois do bafafá e da chuva continuar torrencial, não conseguimos mais dormir direito e brincamos de bichos da luz, conversamos e o papo acabou. Adormecemos...

Às 6 da manhã ficamos extremamente assustados com a intensidade da chuva. Mais vozes eram ouvidas e os vizinhos tinham voltado ao play. Belchior trocou de roupa e foi até lá, claro. Ainda estávamos sem luz e precisávamos de notícias frescas. Nosso play estava completamente alagado. “Casadona, parece um açude. Nossenhora!”, dizia meu marido com o tênis encharcado após a expedição. De repente, a outra parte da nossa encosta desabou, destruindo a piscina do prédio. Ficamos assustados, a correria voltou. Vizinhos desceram mais de dez andares de escadas para verificarem o que realmente tinha acontecido. Nós presenciamos tudo com vista privilegiada. Rapidamente Belchior, o fotógrafo, pegou sua máquina Nikon 6.2 e registrou todos os momentos.

Ainda estávamos sem luz, sem um radinho de pilha para ouvir as notícias. A única coisa que nos restava era o telefone e várias pessoas nos ligavam para passar as últimas notícias. Fiz um café gostoso, quentinho. Bebemos e ficamos jogando conversa fora. Impressionante como resgatamos algumas coisas quando estamos nessa situação. As pessoas ficam mais unidas, conversam mais, se solidarizam, o espírito de equipe renasce.

Belchior, meu rádio notícia favorito, não parava de descer e subir para encontrar os vizinhos. Com isso ele me passava notícias fresquinhas. Ele sempre com esperanças e eu sempre assustada. Se não bastasse sua veia artística e jornalística, um primo dele, que trabalhou em Curitiba, o indicou para ser entrevistado sobre a calamidade que ocorria. Belchior a postos, atendeu o telefone prontamente e passou todas as informações para o jornalista.

“Coisa horrível, cara. Nunca vi isso não. Aqui nós tivemos a nossa encosta destruída sobre a piscina. Tenho fotos sim. Te mando assim que der. Estamos sem luz desde uma da manhã. A sorte é que a gente mora na rua do prefeito”. Desligou o telefone todo bobo. Sairia como personagem na Gazeta do Povo! Belchior, o personagem! E o jornalista continuou ligando para ele durante a semana para saber mais notícias. Mas aí ele cansou, porque a veia artística para ele tinha prazo de validade para o mesmo assunto. Fica sem graça e cansa ...Rsrs

Além de ter se tornado celebridade, quando a chuva deu uma trégua, resolvemos colocar o casaco, tênis, meia, e fazermos uma caminhada ecológica e documentamental para ver os estragos do bairro. Realmente uma catástrofe.

Quando voltamos, nada de luz ainda. Fiz um almocinho à luz de velas. Como ninguém saiu de casa naquele dia, o jeito era aproveitar e descansar. Aquela soneca da tarde foi revigorante, até porque não pregamos o olho direito durante a noite. Mais tarde a luz voltou. A encosta continuava a cair.

Não se passaram 5 horas da nossa tão querida luz e voltamos a ficar sem ela novamente. Naquela noite foi difícil dormir. Armamos o acampamento na sala (mais perto da porta, caso acontecesse algo), com as velinhas acesas. Nada de TV, nada de nada. Ficamos ouvindo o som da chuva, da terra caindo (absurdamente ruim). Parecia que, a qualquer momento, a encosta toda viria abaixo e sobraria para nosso apartamento.

O jeito para Belchior era sempre se divertir. Seu prazer foi ficar me dando sustos até adormecermos. “Você está ouvindo o que eu tô ouvindo”? Não, Belchior. Quer parar de palhaçada!! Você sabe que eu não gosto de sustos! 5 minutos depois - “Tô vendo um vulto ali. Tô com medo”. Belchior, paraaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!!!!!!!!!!! "Ahahahahahhaha"

2 comentários:

  1. KKKKKKKKKKKKKKBelquior e casadona, suas aventuras alegram o meu diaaa! Muitas saudades de vcssss! Bjk NAty

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  2. passo mal de rir com vocês dois! Muito divertido...beijos, Manu.

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