segunda-feira, 1 de março de 2010

Gamboa, o ovo de codorna e o vinho embaixo do braço



Antes de irmos para Gamboa, perguntamos ao dono da nossa pousada sobre o carnaval da lá. Belchior estava todo animado! “Ihh, se eu fosse vocês não ia não. Vão fazer o que lá? Aquilo é carnaval para nativo. Ano passado teve brigada feia, tiro e até morte. Um cara foi assassinado e perdeu a cabeça. Um horror”. Nossa, quase enfartei e fui clara: Ah, amor, então não vamos. Estou cansada e é perigoso. Vamos jantar e depois descansar. Que tal”? Belchior murchou na hora... Entramos no quarto e fui tomar um banho.

Vinte minutos depois, os nossos amigos gaúchos estavam na porta da pousada nos esperando. “Poxa, Casadona, o filhinho deles quer muito ir. Vamos lá ver qual é? Vamos, vamos!”. Mais uma vez, vencida pelos apelos do meu querido e pensando no menino que queria pular carnaval, lá fomos nós... Depois de um banho e de ter curtido praia, meu ânimo estava melhor.

A Gamboa nem se compara a Morro de São Paulo. A sensação era a de que tínhamos saído do paraíso e agora estávamos assim, como direi, em Cabo Frio naquela parte mais carente. Realmente uma ilha com muitos nativos, poucas belezas naturais, com um clima estranho. Saímos do barco em busca do trio elétrico.

A rua principal estava cheia e o clima era mesmo o que estava suspeitando. Carnaval na presidente Vargas no fim do dia, na Rua Nóbrega em Niterói, sei lá. Carrinho de milho, churrasquinho de gato, ambulantes, bares vendendo feijoada (com o slogan: Não vendo fiado nem para minha mãe, ouviu?), pessoas vendendo de tudo. O trio elétrico foi uma piada! A comunidade toda atrás do carro, tirando o pé da lama, pulando e cantando as músicas, que eram tanto de carnaval quanto de igreja ou sei lá! “Entra na minha casa, entra na minha vida, mexe com minha estrutura, sara todas as feridas” em ritmo de samba, rebolation, uma loucura.

Claro que Belchior deu seu show particular e nós entramos no clima dos nativos. Ele tentou entrar na corda do trio, onde só havia crianças, puxava o gauchinho para um lado, para o outro, esbarrava nas thuthucas dançando, pulava, comprava cerveja, voltava, me pegava no colo! Até que nos divertimos!

No fim das contas, sentamos num boteco local, compramos acarajé (mas Belchior é alérgico a crustáceos e, coitado, sempre fica na vontade). Como ele não pôde comer, comprou churrasquinho no palito. Era de gato, claro. Mas ele comeu mesmo assim. Depois, ficou compadecido com um menininho vendendo ovos de codorna. Isso mesmo, caro simpatizante do blog! O menino carregava uma caixa com centenas de ovos de codorna cozidos e eram 6 por R$1! Belchior amou e comprou! Só que não havia pratinho, molhinho, nada. Ainda tínhamos que descascar os ovos na hora... 'Eu sou o lobo mal 'tocando e a gente descascando ovo de codorna....

Porém, Belchior também estava nervoso. Andou a ilha toda querendo saber em que lugar poderia assistir ao jogo do Fluminense. Torcedor doente, ficou triste ao saber que lá eles só passam o campeonato paulista. Quando voltávamos da Gamboa, ele descobriu, por meio das mensagens dos amigos sacaneando, que o seu time havia perdido...

Depois da nossa aventura em Gamboa, nos demos conta de que, apesar de termos beliscado umas coisinhas (até ovo de codorna), não tínhamos feito uma refeição sequer no dia. Voltamos para Morro e fomos jantar em um dos muitos restaurantes de lá. Achei melhor comer uma massa. Ao rodarmos pela ilha, encontramos uma barraca linda com várias frutas! Era de capiroska! Claro que Belchior, sem pestanejar, parou e pediu uma caipiroska de seriguela! Adoro seriguela! O problema é que ele já estava louco. Bebeu o dia inteiro e sem comer! Mas, ao tentar argumentar, a resposta foi na lata: “Casadona, é carnaval! Uhuhu, é carnaval! Larga eu beber”. (Só para explicar, a frase “larga eu beber" é de sua própria autoria e já tem a licença poética para uso de Belchior). Então tá, né.

Enquanto esperávamos a caipiroska, pegamos umas frutinhas da barraca para provar. Mas o dono da barraca ficou p da vida e, na brincadeira, falou. “Meu irmão, tira a mão das minhas frutas. Não gosto que ninguém as pegue, não é higiênico”. Nossa! Ficamos surpresos com a atitude e respeitamos a higiene do cara! Mas, Belchior não se conteve! “Pô, maneira a sua preocupação, cara. Mas e se você sentir aquela vontade de coçar o saco? Vai colocar a mão na fruta depois? Ahahahaha”. O ambulante, coitado, não se conteve e caiu na gargalhada.

Saímos da banquinha rindo até não poder mais. Entramos num restaurante italiano. Belchior sem camisa e com a caipiroska na mão. Surge o dono. “Mesa para dois”? “Isso mesmo. Você é argentino? Posso ficar sem camisa?”, começou Belchior. O cara respondeu que era italiano. “Posso continuar bebendo a caipiroska”? “Claro, fica até melhor, respondeu o dono”. Bem, se deixasse, ele ficaria perguntando duas mil coisas para o coitado. Pedimos a comida. Mas, ele não se conteve e quis porque quis beber um vinho. “Massa se come com vinho, Casadona. E eu quero beber um vinho. Larga eu beber o meu vinho”. Mas, querido, você não está se agüentando em pé de sono e de bêbado. “Eu quero vinho! Larga eu beber meu vinho”. Convencida pelo discurso sempre igual do meu marido e pelo meu cansaço do dia e da noite anterior, não dei bola. Larga ele beber o vinho!

Quando pedimos a conta, Belchior, já com o olho fechando, me disse: “Não aguento mais o vinho”. E saímos do restaurante com Belchior carregando a garrafa completamente cheia debaixo do braço. Perambulamos pelo vilarejo e encontramos com o colega de trabalho dele (aquele que passou o dia concosco e ele zuou porque estava pegando a estagiária). O cara passou mal de rir ao ver a cena. Belchior bêbado, carregando a garrafa e eu quase que carregando os dois: ele e a garrafa! "Não aguentou beber a garrafa"? "Não, cara, tô muito louco"! Imaginem vocês a cena.

Depois, passamos de volta pelo dono da caipiroska que também riu da cena. Para fechar, a ambulante que vendia quadrinhos na rua gritou: “hoje tem com essa garrafa aí”. Ahahah, teve sim, muito sono e a garrafa no frigobar!

Nenhum comentário:

Postar um comentário