terça-feira, 30 de março de 2010

A volta dos que não foram


Depois do nosso domingo chicleteiro, a semana começou arrastada e pesada com o trabalho. Além disso, ainda tive que ajudar minhas duas grandes amigas com problemas pessoais e seus namorados, que me ligavam também. Passei a semana entre o choro de uma, o choro da outra, a ligação de um namorado, conselhos para o outro. Enxuga a lágrima daqui, dá esporo dali, conversa de cá, pensa de lá. Afff!

Ainda tive que dividir meus ânimos com a minha profissão. Ser assessora de imprensa é uma arte. Já tinham me falado sobre isso e eu não acreditava. Comecei a ficar boa na área porque abusei de três coisas que tenho: paciência, educação e muita persistência! A minha empreitada principal da semana foi conseguir convencer a equipe do jornal O Globo a fazer uma matéria de capa do aniversário do shopping que eu assessoro. Gol de placa! Mas a foto da capa seria com a estrela da campanha, uma modelo e atriz famosa, que me tirou todo o sono e humor que ainda restava.

Ok, ok, era sexta-feira, o dia mais esperado da semana e eu queria encontrar uma amiga que mora fora e estava pelo Rio. Belchior estava voltando de viagem e, para variar, tivemos um erro de comunicação. Eu pensei que ele ia me encontrar e ele pensou que era para irmos para casa. Desencontro. Era o que bastava para meu estresse ficar mais alto. Desisti de encontrá-la, estava exausta e mal humorada, e vim para casa.

Quando cheguei na esquina do prédio, Belchior me esperava fazendo o que ele mais gosta. Estava sentado no boteco, tomando sua gelada da noite. Sorrisão no rosto. E eu tiririca da vida. Nem dei confiança. Um ‘oi boa noite geral’ e subi. Cheguei em casa, larguei a bolsa, me joguei no sofá. Terminei de ler o livro que estava me salvando nessa semana complicada. Fim da história. Dei cinco voltas pela casa. Queria ter ido encontrar minha amiga. Mas não fui. E agora? Procurei uma passagem de ida para lua (precisava me desligar do mundo algum tempinho), mas também não encontrei. Só me restava tomar um bom banho (peguei todos os meus cremes e esfoliantes) e deixar a água levar meu cansaço e mau humor. Coloquei meu roupão, toalha enrolada na cabeça e, quando abri a porta do quarto, Belchior já estava em casa.

Respirei fundo e fui falar com ele. Belchior, vou sair. Ele rindo, deitado na rede, com umas cervejinhas na cabeça, completamente relaxado. “Posso ir também?”. Não, quero sair sozinha. Eu não queria sair sozinha, mas estava p da vida. “Tudo bem então”. Como tudo bem? E começamos uma discussão normal de casal, em tom baixo. Você fala uma coisa para mim e faz outra. “Você que não entende o que eu falo”. E parará, parará.

Do nada, Belchior se levanta e me diz. “Quer saber? Cansei. Vou embora de vez. Vou voltar para o meu apartamento com meus irmãos”. O quê??? Que isso, Belchior! Não tô entendendo. “É isso mesmo que você ouviu”. E saiu da varanda. Eu fui atrás. Entrou no quarto, abriu o armário e retirou camisa por camisa, dobrando todas cuidadosamente.

Belchior, o que é isso? Que bobagem é essa. Não falei nada demais para você ir embora. “Você é sempre dona da verdade. Não quero conviver com isso para o resto da minha vida. Fica tranqüila, você é linda, uma mulher sensacional. Vai refazer sua vida rápido”. E abriu a gaveta de cuecas e meias. Começou a dobrar uma por uma. Belchior, que palhaçada é essa. Vamos conversar. Depois de tudo que vivemos vamos terminar assim? Larga isso tudo aí e vamos dar uma volta para conversar. Por favor.

Não sei descrever para vocês o que senti naquele momento. Fiquei chocada, estarrecida. Coloquei minha mão dentro do bolso do roupão para conter o nervosismo. Como assim, gente? Tanto amor, tanta loucura, tanto empenho, tanta alegria. Terminar assim, do nada? Belchior, pare com isso. Vamos conversar. Minha voz começou a ficar embargada. “Fica solteira aí com suas amigas. Eu vou embora mesmo”. Um desespero, aos poucos, tomou conta de mim. O que será que eu tinha feito para ele tomar essa atitude? Pensei em ligar para todo mundo. Agora ele começava a dobrar as bermudas.

Não pensei duas vezes. Com o coração disparado, puxei Belchior e o abracei. Com o choro preso na garganta, pedi. Por favor, Belchior, o que está acontecendo? Aí veio a grande surpresa. Inacreditável. Belchior me abraçou forte, caiu na gargalhada e me disse: “Amor, você acha que eu vou embora? Eu te amo demais! Eu sou uma artista, foi só para brincar com você”. Genteeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee, o quê??????????????????? Ele fez tudo aquilo de brincadeira. Caiu na cama e começou a rir. Caí em cima dele e dei uns dez tapas e socos no braço! Como você pode brincar comigo assim????? Fiquei em estado de choque maior ainda!

E calmamente ele começou a desdobrar a pilha de roupas formada em cima da cama, cantando e rindo, e colocando cada uma cuidadosamente de volta ao seu lugar de origem! Sim, caros apreciadores deste singelo blog! Ele quis fazer uma brincadeira, ele era um artista, ora! Será que eu não sabia disso? Rsrs


Não acreditei. Tive vontade de ficar absurdamente com raiva, de bater nele, de mandar ele embora de verdade! Como pode brincar assim, tão sério, me dar um susto desses? Mas não tiver forças. A frase ‘Eu sou um artista’ me quebrou de todas as formas. Peguei um suco e sentei na sala. Não sei mais o que fazer com esse meu marido. Ele é um artista, pensava eu. Não dá nem para brigar sério!

Depois de colocar suas roupas de volta no armário, ele veio para sala. Disse mil e uma frases de amor. “Vamos sair, Casadona. Tô louco para tomar outra cervejinha”. Mudei a roupa e fomos dar uma volta. Um dia eu ainda vou ter um treco com Belchior e suas peripécias. Aí vocês me procurem direto no hospital.

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